Fundo BR RSAHRS APTD - Arquivo Particular Tarso Dutra

Área de identificação

Código de referência

BR RSAHRS APTD

Título

Arquivo Particular Tarso Dutra

Data(s)

  • [1880?]-1983 (Produção)

Nível de descrição

Fundo

Dimensão e suporte

Textual: 17,225 metros lineares
Bibliográfico: 4,62 metros lineares
Iconográfico: 1,638 metros lineares
Cartográfico: 1 mapa
Tridimensional: 34 itens

Área de contextualização

Nome do produtor

(1914-1983)

Biografia

Tarso Dutra nasceu em Porto Alegre, no dia 15 de maio de 1914, cursou o Ginásio em Santa Maria (RS) e seu bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Rio Grande do Sul. Especializou-se em Direito Civil e Administrativo e, concomitantemente, iniciou suas atividades de militância política, filiando-se ao Partido Republicano Liberal (PRL) rio-grandense até dezembro de 1937, quando os partidos políticos foram extintos pelo golpe que institucionalizou o chamado Estado Novo.
No ano seguinte (1938) passou a integrar o Conselho Superior da Caixa Econômica Federal no Rio Grande do Sul, ocupando a função de advogado e assessor jurídico. Já no ano de 1945, ele desempenhou a mesma função, desta vez no Banco Mercantil-Rural.
Com o retorno à democracia em 1945, Tarso Dutra se reinsere na política militando na fundação do Partido Social Democrático (PSD) no Rio Grande do Sul.
Em abril de 1946, exerceu seu primeiro cargo público, sendo eleito presidente do Conselho de Serviço Público Estadual, e logo a seguir designado Presidente do Departamento do Serviço Público Estadual.
Na Assembleia Constituinte Estadual de 1947, elege-se pela primeira vez deputado pelo Partido Social Democrático (PSD). Com a promulgação da Constituição Estadual, em julho deste ano, Dutra passou a exercer mandato ordinário, tornando-se segundo-secretário da Assembleia Legislativa e membro da Comissão Mista de Assistência Social.
Já nas eleições de 1950, Tarso Dutra foi eleito deputado federal representado o Rio Grande do Sul pelo PSD, tomando posse em 1951. Mandato este que seria posteriormente renovado nas três eleições seguintes (1954, 1958 e 1962).
O golpe civil-militar de março de 1964, que depôs João Goulart da Presidência da República, levou à instauração de uma ditadura que duraria 21 anos no Brasil. Pelo Ato Institucional Nº 2 (AI-2), de 28 de outubro de 1967, decretou o regime bipartidário, concentrando as diferentes agrupações políticas nos partidos Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), base de apoio e oposição ao governo, respectivamente.
Neste contexto, Tarso Dutra disputou, com o apoio da ARENA gaúcha, as eleições indiretas ao Governo do Rio Grande do Sul, sendo derrotado por Walter Peracchi Barcellos.
Em 1966, Tarso Dutra voltou a disputar e vencer as eleições para deputado federal. Desta vez, no entanto, seu mandato foi interrompido em março de 1967, em razão do convite do Chefe de Governo Arthur da Costa e Silva para assumir a pasta do Ministério da Educação e Cultura.
Poucos dias após de ter assumido como Ministro, institucionalizou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), um órgão que visava erradicar o analfabetismo do país. Ainda durante os primeiros meses de mandato, teve que encarar os conflitos com os estudantes que se posicionaram em franca oposição às reformas na educação promovidas pelo ministro. Pretendia-se, através da mesma, transformar as Universidades Públicas em fundações, envolvidas em acordos com agências estadunidenses para a aplicação de projetos educacionais transferidos deste país.
No marco de uma conjuntura política nacional degradada e de frontal conflito com diversos setores da sociedade, a ditadura decide intervir de forma autoritária nas universidades brasileiras, utilizando-se, para tanto, de medidas repressivas e de violência contra as organizações estudantis, estabelecendo um cotidiano estado de perseguição.
Em junho de 1968, os estudantes saíram às ruas em protesto contra a violência de Estado na famosa “Passeata dos Cem Mil”, na cidade do Rio de Janeiro. Com o acirramento das contendas entre as forças políticas de resistência e o governo, a ditadura decide ampliar ainda mais seus poderes de repressão. Em 13 de dezembro de 1968, o Conselho de Segurança Nacional baixa o Ato Institucional Nº 5 (AI-5), documento revisado por Tarso Dutra – entre outros – que limitava muito mais as liberdades individuais e coletivas da sociedade brasileira.
Ao amparo deste marco jurídico repressivo, Dutra faria funcionar os planos doutrinários do regime. Em abril de 1969, remanejou mais de 3,5 mil estudantes para escolas de áreas consideradas prioritárias pelo governo. Logo a seguir, assinou uma série de acordos com países europeus, parcerias destinadas à importação de material didático e técnico. Nesse mesmo ano, chefiou a delegação brasileira junto à VI Reunião do Conselho Interamericano Cultural da Organização dos Estados Americanos. É durante essa cúpula que são assinados os protocolos do convênio entre o MEC e a United States Agency for International Development (USAID). O acordo autorizava o governo brasileiro a receber mais de 30 milhões de dólares dos Estados Unidos, verba a ser aplicada na instalação dos ginásios orientados para o trabalho. No mesmo contexto, Dutra se posicionaria a favor do ensino da Educação Moral e Cívica, tornada obrigatória no currículo escolar pela ditadura. Durante esse período à frente da pasta da Educação, foram criadas várias comissões de estudo para investigar as possibilidades de reformar o ensino básico e superior.
Em agosto de 1969, o ditador Arthur da Costa e Silva sofreu uma trombose cerebral. Apesar de que, pela Constituição de 1967, o vice-presidente Pedro Aleixo se tornaria o presidente interino, em 31 de agosto, os três ministros das Forças Armadas emitiram o Ato Institucional Nº 12 (AI-12), formalizando a instalação de uma Junta Militar. Essa Junta governou o Brasil de 31 de agosto de 1969 até 30 de outubro de 1969. A Junta transmitiu a Presidência da República ao general Emílio Garrastazu Médici, e Dutra foi substituído por Jarbas Passarinho.
Assim, Tarso Dutra reassumiu sua cadeira na Câmara dos Deputados e, em seguida, tentou concorrer ao governo do Rio Grande do Sul. Novamente foi preterido pela ARENA, que decidiu lançar Euclides Triches como candidato ao Governo. Por esta razão Dutra candidatou-se ao Senado, para onde foi eleito.
Em fevereiro de 1971, Tarso Dutra se tornou senador da República. Sua atuação no Senado foi marcada pela participação em diversas comissões, dentre elas a de Educação e Cultura (da qual foi presidente). Em 1974, mais uma vez, Dutra tentou ser candidato a governador de seu Estado natal, mas a Arena novamente escolheu outro nome (o então deputado Sinval Guazzelli). Três anos depois, em 1978, Dutra voltou a ser eleito (indiretamente) senador. Os chamados “senadores biônicos” eram parlamentares eleitos indiretamente pelo Colégio Eleitoral de acordo com a Emenda Constitucional nº. 8, de 14 de abril de 1977, que previa um conjunto de medidas que ficou conhecido como “Pacote de Abril”. Desse modo, um senador seria eleito pelo voto direto e popular, e o outro seria indicado pelo Colégio Eleitoral, garantindo a maioria de parlamentares da ARENA no Senado. Seu novo mandato foi marcado pela defesa do sistema bipartidário, mas àquela altura o contexto já não favorecia a manutenção de uma das principais marcas da ditadura.
Em novembro de 1978 cai o bipartidarismo e surgem as novas legendas. Tarso Dutra decide aderir ao herdeiro legítimo da ARENA, o Partido Democrático Social (PSD).
Tarso Dutra faleceu em 5 de maio de 1983, em Porto Alegre, atuando como senador. Era casado com Maria Leontina Degrazia Dutra e teve dois filhos.

História do arquivo

Após a morte do ex-ministro, em 1983, a documentação ficou depositada numa de suas propriedades, localizada na cidade de Eldorado do Sul, no conjunto residencial Guaíba Country Club, a cerca de 30 km de Porto Alegre, capital do Estado Rio Grande do Sul. Em 2004, a casa foi invadida e saqueada, fato que teve a cobertura dos meios de comunicação locais. Na ocasião, o jornal Zero Hora recebeu um maço de documentos confidenciais, trazidos do sítio abandonado. O referido meio de comunicação, através de uma equipe de reportagem, foi até o local, onde se constatou que o acervo documental havia sido vandalizado; porém cerca de 25 mil documentos, muitos tarjados ou carimbados como confidenciais e secretos, foram afortunadamente preservados e não foram objeto do furto ou destruídos (Zero Hora, Porto Alegre, 16/12/2004).
Os documentos encontravam-se espalhados pelos cômodos, pátio e varanda da casa de madeira usada para descanso por Tarso Dutra, ex-ministro da Educação no governo do general Costa e Silva (1967-1969), período marcado pelo recrudescimento da ditadura, com a edição do AI-5, em dezembro de 1968. Neles, constam como se fazia espionagem e todo tipo de enquadramento aos opositores do regime, destacadamente aos trabalhadores da educação. Esse conjunto de documentos públicos encontrava-se misturado a documentos pessoais.
A partir da denúncia do meio de comunicação, o Ministério Público procedeu ao recolhimento da documentação em dezembro de 2004 à sede da Procuradoria-Geral do Estado. Muitos papéis já haviam se tornado ilegíveis e não existia qualquer ordem original. Ainda assim, os documentos foram provisoriamente acondicionados, e o Ministério Público procedeu ao levantamento documental, identificando as espécies e tipologias dos documentos, bem como separou documentos como as fotografias, o acervo bibliográfico, recortes de jornais e revistas, entre outros. Logo a seguir, a Promotoria de Direitos Humanos do Estado do Rio Grande do Sul conferiu a responsabilidade da custódia do conjunto documental ao Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (23/03/2005), instituição que na época, abrigava o “Acervo da Luta Contra a Ditadura”.
No ano de 2006, e com a participação de pesquisadores vinculados ao Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, se procedeu ao primeiro levantamento documental. Na ocasião, o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul não contava com profissionais da área de arquivologia, o que impediu o tratamento técnico arquivístico adequado.
De qualquer forma, logo após seis meses de início de trabalho, os mesmos foram interrompidos devido a uma ordem judicial que impedia o manuseio e o acesso aos documentos. A família do ex-ministro Tarso Dutra havia impetrado uma ação judicial, exigindo a devolução de toda a documentação. Alegava-se, para esse efeito, que o arquivo continha documentos de caráter pessoal e, portanto, deveria permanecer sob custódia de seus herdeiros.
Por esta razão, o acervo documental de Tarso Dutra permaneceu fechado por vários anos em uma das salas de armazenamento de documentos do AHRS, sem o tratamento adequado e, consequentemente, sem possibilidade de consulta por parte de pesquisadores e usuários.
Posteriormente, a Comissão do “Acervo da Luta Contra a Ditadura” foi extinta no período de governo de Yeda Crusius (2006-2010), e os documentos de Tarso Dutra passaram à guarda definitiva e direta do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Em 2012, foi recebida a notícia que a Justiça decidiu pelo fim da causa iniciada pela família de Tarso Dutra, indeferindo seu pedido.
A partir do convênio celebrado, em 2013, entre o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e o curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, deu-se início ao tratamento arquivístico do Fundo documental, o qual incluiu a classificação do acervo a partir da constituição da estrutura interna do Fundo e a consequente construção do “quadro de arranjo”, e suas estruturas e subdivisões internas, fruto de um árduo trabalho realizado por um grupo interdisciplinar de estudantes e historiadores e do Curso de Arquivologia.
Em 2013, deu-se início às atividades de organização do Fundo, com a participação de estudantes das disciplinas de “Arquivos Permanentes” e “Descrição Arquivística”, ministradas pelo Prof. Jorge Eduardo Enríquez Vivar, um dos responsáveis pelo convênio, assim como estagiário(a)s de História do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, sob a coordenação da historiadora Ananda Simões Fernandes, do Arquivo Histórico.
Após uma série de estudos e trabalhos desenvolvidos para a organização dos documentos, os coordenadores das equipes de trabalho decidiram dar prioridade à organização e descrição dos documentos diretamente relacionados ao Ministério da Educação e Cultura, quando Tarso Dutra foi titular desta Pasta.
Em 2021, o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul concorreu e foi contemplado na XXIII Convocatória do Edital Iberarchivos, iniciativa de cooperação e integração dos países ibero-americanos, para o fomento ao acesso, organização, descrição, conservação e difusão do patrimônio documental. Dessa forma, procedeu-se à revisão da Subsérie 03.5 – Terrorismo de Estado, descreveu-se por item documental a Subsérie 03.2 – Relações Institucionais e descreveu-se de forma sumária as demais subséries da Série Ministério da Educação e Cultura.

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          Nota do arquivista

          Coordenação Edital Iberarquivos:
          Ananda Simões Fernandes; Grazielle Araujo Barcella; Jorge Eduardo Enríquez Vivar; Letícia Scherer Zavaschi; Paola Robaski Timm

          Equipe técnica de apoio Edital Iberarquivos:
          Arienei Erian Azevedo de Abreu; Fábio Oliveira Sosa; Gabriel Castello Costa; Marcia Lopes de Faria; Vanessa Becker Souza; Thereza Trussardi Neta

          Convênio UFRGS/AHRS:
          Acordo de cooperação técnica entre o Curso de Arquivologia da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul com a atuação de estudantes das disciplinas “Arranjo em Arquivos Permanentes”, “Descrição Arquivística”, e Estágios I e II, no período 2013–2015.

          Coordenação:
          Prof. Jorge Eduardo Enríquez Vivar (UFRGS); Hist. Ananda Simões Fernandes (AHRS)

          Equipe de Pesquisa:
          Letícia Scherer Zavaschi (AHRS); Paola Natalia Laux (AHRS); Renata dos Santos de Mattos (AHRS)

          Área de ingresso