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Pessoas e organizações
Albuquerque, Armando
Pessoa · 1901-1986

“Este compositor gaúcho é um caso sui generis na nossa música. Nascido em 1901, só a partir dos anos setenta e, mais precisamente, de 1975 é que se fez conhecer, aplaudir e admirar fora do Rio Grande do Sul. O relativo isolamento do Estado sulino e seu retraimento natural foram, em parte, responsáveis pelo desconhecimento de sua obra. O pianista Paulo Afonso de Moura Ferreira foi seu primeiro divulgador nacional e breve angariaria o apoio de Gilberto Mendes, que escreveu com entusiasmo a seu respeito, salientando o aspecto pioneiro de seus trabalhos mais antigos. Na verdade, nem mesmo no Rio Grande do Sul era ouvido com freqüência. Sua aceitação nos grandes centros nacionaisé que levou a uma maior assiduidade de seu nome nos concertos gaúchos.

Retiro de uma carta de Armando Albuquerque a Gilberto Mendes algumas notas qu ajudam a compreender o compositor: “... nada teria acontecido, não fosse a viagem que fiz a São Paulo (1926-28), onde me movimentei intensamente, mas nunca procurei quem quer fosse que cuidasse de composição. Em São Paulo já comecei a compor dentro de uma linha moderna, mas foi somente quando voltei a Porto Alegre que toda aquela força acumulada se libertou, verdade que com muito esforço”. Albuquerque foi mesmo um autodidata e só seguiu dois cursos: harmonia e violino.

Gilberto Mendes salientou na “Tribuna”, de Santos, que a sensibilidade de Albuquerque “captou as verdadeiras vibrações de seu tempo e ele chegou, por intuição, a uma obra que refletiu sozinha, no Brasil, lá no Sul, o expressionismo popularesco de um Kurt Weil, George Antheil, compositores que provavelmente ele nem conhecia naquele tempo (1928). Até nos títulos a gente sente a atmosfera daquela época, daquela geração maldita que viveu entre Paris e Berlim pré-nazista, a Berlim do cabaret”.

(...)

Bruno Kiefer afirma que “a linguagem harmônica do compositor é do século XX: seus ritmos têm instabilidade que impregna o nosso modo de sentir. Formalmente é compacto, denso. De resto é...Armando Albuquerque”. Louva Kiefer as obras para a voz do compositor gaúcho que são 24, quase todas sobre versos de Augusto Meyer e de Athos Damasceno. Saliento a Oração da Estrela Boeira, Serenata Dotrefoá (trítico), Órbita, a coletânea Sorriso Interior como as mais atraentes.

Dentre sua obra para piano, bastante mumerosa aliás (33 peças, algumas em várias partes), destaco cronologicamente Pathé Baby (1926), Moto Non Perpetuum (A Mastigação...) de 1928 e estreado por Moura Ferreira no Festival de Santos em 1976, Chopp (1929), Chourama (1929), Quase Noturno (1939), Motivação (1945), Tocata (1948), Suíte Bárbara Infantil (1965) e Sonho III (1974). (...).

Albuquerque é um compositor que nunca chegou a aderir a esta ou aquela corrente. E preferia o repertório de câmara, embora tenha utilizado a orquestra com correção. Seus conterrâneos sentem o gauchismo fervoroso desse homem sereno, alto, moreno e forte, com a cabeça branca e olhar bondoso. (...)

Quando falava acima de sua música de câmara, pensava no excelente Trio nº 2, estreado em 1976 por Arnaldo Estrela, Mariuccia Jacovino e Iberê Gomes Grosso, e no quinteto Trip (1947), para piano e cordas, transcrição feliz da Suíte Bárbara Infantil, de idioma avançado. Compôs ainda três obras para orquestra que comprovam sua mestria na instrumentação: a Suíte Breve, estreada por Pablo Komlos em 1954 e interpretado por Vicente Fittipaldi, em 1980, com muito agrado do público portoalegrense. (...)

Armando Albuquerque não é um compositor bissexto. Sua atuação criadora foi até continuada e persistente. O isolamento no sul do país, aliado a uma acomodação de temperamento, retardaram injustamente seu reconhecimento nacional, que afinal se concretizou. Continua pouco impresso e pouco gravado. Merece maior apoio dos tutores culturais de seu rico Estado natal, que em outra época badalaram exageradamente a discreta genialidade de Luis Cosme. Faleceu em Porto Alegre em 1986.”